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Textos

A lua toda branca insiste em mais uma noite, da mesma.forma.eu aqui embaixo, sua aura toda brilhosa la do céu quer dizer qualquer coisa não posso ouvir mas apenas em ver é motivo de sorrir. Passam as nuvens por ela, feito areias de deserto, poeira brincalhona da noite que muito terá de correr. Olhando pelas teias nebulosas, a lua parece se mexer, dentro de grandes casarões.embraquecidos, acalentados por sua presença e logo caindo na escuridão depois de sua passada. A lua na verdade não se mexe. Daqui da cadeira, eu não me mexo, as nuvens nos cumprimentam, fazem passos seguros de quem sabe pra onde vai, a cor de uma hora que passa.devagar mas para quem o tempo não importa passar. Quanto tempo a lua continua lá e nada diz? Apenas a olhamos sem saber do seus segredos, ela pode ate conhecer os nossos. As nuvens continuam passandoz, enquanto houver céu haverá lua, haverá terra e haverá gente olhando pra lua.

Sobre a postagem: Outro da recém-criada série Texto-Minuto. Este é de 07/01/2023. Desta vez, o foco foi escrever algo em 4 minutos, algo que passasse de algum modo pela lua daquela noite. O exercício propõe escrever primeiro, perguntar depois, e resolvi deixar mesmo as eventuais falhas de digitação que ocorrem ao teclar de modo mais alucinado, e ver o que tudo isso também comunica ao texto. As imagens vão surgindo enquanto os dedos escrevem, tudo ou quase tudo entra, é um fluxo de rio, apenas vai, apenas observar ir, e depois perceber a coisa inteira gerada. Depois dessas experimentações, tenho passado a olhar o minuto de um jeito como a entender melhor o tempo, é incrível o que é possível fazer em um, dois ou quatro minutos.

Os óculos por sobre a cama me olham sem reclamar. Suas lentes assim parecem tão pequenas para tudo o que penso ver. Tão quieto o mundo assim parado, cruzado, quase abandonado. Meus olhos ainda insistem em enxergar.

Sobre a postagem: Seguindo a ideia do post anterior, do dia 01/01/2023, de escrever sob certos limites de tempo, e experimentar o que é possível extrair de objetos no momento presente. Aqui tudo se deu em 1 minuto, um exercício interessante, as palavras apenas vem e não há muito tempo ou espaço para julgar o que vai ou não, é uma vazão de sentidos, sem explicações.

Crônica Expressa é uma nova invenção do blogue. Serão textos rápidos apenas clareando alguns temas e ideias. Vamos ver no que dará.

Em 2020 era cada um em sua casa, estúdio, ateliê, o que fosse, havia muitas e muitas paredes de distância. Mas todos falavam e se vestiam muito bem, como estivessem ali, do seu lado. Era essa sensação que senti tantas vezes em tantas lives. Gente que nunca vimos na vida nos viam, viam nossa casa, e nós víamos a deles, por aquela pequena grande janela, entrávamos e saíamos feito mosquitos, tão rápido e tão fácil que era um poder grande demais a ser administrado.

Lives se tornaram mais e mais constantes, e cada um continua sendo um, mesmo com a janela do mundo mais aberta do que nunca. Escolher onde estar, o que ver, quem não ver. A arte do encontro agora dependia apenas de inscrições em salas virtuais, senhas e câmeras e microfones abertos. A casa ia junto conosco, vozes paralelas, latidos, barulhos, mas todos tentavam compor seu melhor eu, como estivessem de verdade um de frente para o outro, ou outros, como nada mais estivesse à sua volta.

Era interessante como cada janelinha, nas salas com muita gente, mostravam um pouco da personalidade de cada pessoa, como ela tivesse viajado e a janela fosse sua mala de viagem.

Outras ideias desse tema estarão em meu futuro livro Orador Ativo, previsto para 2022.

Apareceram cedo naquela noite, de penachos fartos, bicos compridos e a certeza do fardo anunciado. Apareceram assim quase sem aparecer, em qualquer segundo vazio onde as nuvens segredam aurora. No céu do último azul, rompem a dor de mais uma noite, ao anúncio do peito que se esfarela angústia. Elas entendem o preencher dos abismos, refestelam-se da agonia daqueles gritos que não se podem dar, cantam no silêncio a sutileza do segundo. Enquanto escorre a cachoeira desacreditada, as mãos percorrem desajeitadas como não soubessem reverenciar tais entidades. Arde qualquer coisa aqui dentro, um amargo já conhecido, já anunciado, já levado mas sempre trazido de volta. E se diluem por fim no redemoinho da calçada, como a água empoçada do pátio mal lavado, os mil olhos das espumas errantes, órfãs eternas mal nascidas já laceradas. As mãos seguem a oração, embanhadas de medo enquanto pelo cano da parede voam as aves miosótis, voa a liberdade.

24/05/2020

O que esquecemos pelo caminho? Por entre os trilhos enviesados de nossa própria sombra, mal se pode discernir a verdade da desordem, a gente deita, mal dorme, o mundo, este mundo não deixa parar, não deixa ver, há luz demais no vazio das horas domesticadas, pouca sombra a despedaçar necessária solidão, senão a das noites, madrugadas onde a lua é a última a dormir. Não importam todas essas coisas, o sol chegará do mesmo modo o mesmo tempo noutra história, a minha, a sua, não há tempo de ninguém, já ouvia-se dizer, a gente esquece o que ninguém quer lembrar, o que o dia leva na rudeza do esgoto, toda e qualquer fruta apodrecida, mas esquecer sem esquecer, já há uma nova esquina adiante, um pódio ainda maior, a certeza do irremediável abandono. E a gente volta, sem dúvida volta, quer ver que teremos aquela coragem doutros tempos, onde pouca importavam as trevas, onde as paredes ressoavam tão alto quanto se quisesse. E nós queríamos .