18+18


Ou ainda faço? O que é o tempo? Será que somos apenas o que cabe em um ou dois dígitos? O que é o tempo? Outro ano. Passou de repente, feito trem por baixo de um túnel ora claro ora escuro, a vida. E continua passando. Agradeçamos. Desde que comecei a escrever textos sobre este dia, o aniversário, é curioso que ele sempre parece chegar mais rápido, quase numa provocação direta ou teste ao que poderei eu escrever. Mais um ano. O quanto mudamos em um ano? Com o costume de escrever constantemente em diários, vejo ser possível perceber muito do que muda mas – sobretudo – o que não muda. Parece ser isso o que à primeira vista mais nos atrai. O desejo de buscar e seguir o que sonhamos e acreditamos faz com que o passado tente projetar uma eventual sombra por cima de situações tidas como comuns ou repetidas, mas o agora é o único tempo que temos condição de agir e mudar, é lição que o próprio tempo assume como melhor dos professores.

Acredito cada vez mais que não fazemos aniversários apenas em um dia, mas em todos os dias que estamos no milagre que é essa vida. A todo momento que cumprimentamos e somos cumprimentados por amigos ou conhecidos, quando sentamos para tomar um café, almoçar, ou talvez observar o céu, mesmo sozinhos, estamos em vibração com o mundo, estamos vivos. Corre por nós o calor da criação, é sempre motivo de celebrar. Há tanta coisa por descobrir, por conhecer, por experimentar, e também por soltar.

Este ano não passarei em casa, como há anos não acontecia. A coisa da pandemia do Covid afastou realidades que só agora voltam a melhor serem imaginadas. E vividas. O motorista dessa noite comentou que somos privilegiados por estarmos vivos, ante tudo o que passou. Com certeza. Fato é que a casa, seja qual for, continua em nós onde quer que se esteja. E que ela continue iluminada, sempre.

Mas voltando a falar de números, esses que sempre querem ditar nossa vida, desde o ano passado tive a vontade de fazer alguma coisa com a curiosa relação que há entre o 18 e o 36. Duas vidas? Acredito que muito mais do que isso, todo acordar é uma nova vida, a chance de sermos melhores do que fomos ontem. Se aos 18 anos temos o que para muitos é a “entrada” numa vida adulta, de todas as permissões e possibilidades, sem se importar com riscos ou consequências, o que temos aos 36? O que trouxemos de lá para cá e levaremos, pela lógica, aos 72? Quantos “eus” nascerão e deixarão de existir? É caminhando que se faz o caminho, diz o poema do poeta espanhol Antônio Machado e também a música Enquanto Houver Sol, dos Titãs. Caminhemos, reconhecendo as sutilezas dessa vida, os detalhes só possíveis porque caminhemos, não corramos.

No meu entender de hoje, acredito que paira no ar uma necessidade de recolhimento, de encontrar um transição a uma vida mais simples, cada vez mais leve, mesmo enquanto segue orbitando o caos que sabe precisar para viver. Em doses moderadas ou elevadas, tudo vira combustível, vira material para escrita, jogar letra fora, ensaiar verdades, essa coisa da palavra.

A cada ano fazemos uma nova prova, aprendemos a aprender essa coisa misteriosa que é o tempo. Já era antes de nós e continuará além de nós. Até lá só nos resta o agora, que às 5:35 da manhã e com 5% de bateria no celular, uso para retocar o que acho que já é o final desse texto, nascido numa madrugada de tantos vai e vens, temperada pela chuva de uma volta ao mundo, que veio onde cada vez mais uma vida busca se ver além da vida possível.

PS: Ano passado, o texto “trinta e cinco”, referente ao mesmo dia e tema, acabou não sendo postado no dia 20/03 por motivos técnicos que expliquei quando o texto finalmente foi ao ar, em dezembro. Veja aqui.

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